DIÁRIO DE VIAGEM EM ANGOLA - de Pe. Luiz De Liberali

AS PRIMEIRAS VISITAS

Queridos jovens, "A gradeço a todos pela amizade e solidariedade nesta minha ida para Angola. Estou vivendo os primeiros dias em terra africana, tentando entender as tradições e culturas. Envio um pequeno relatório da minha viagem e do primeiro impacto com a realidade da cidade de Luanda. Minha futura destinação será Luena, a 1.100 km da capital, no interior, acompanhando e evangelizando as comunidades rurais. Com a certeza que estamos caminhando com Dom Bosco "aqui e lá, juntos, missionários", envio minhas saudações".

29-01-2009

DEIXAR TUDO

Em Recife, subi no avião tranqüilo e, diria, feliz, depois de saudar os salesianos e amigos no aeroporto. Estava para começar uma nova aventura, na África. Quando, porém, o avião começou a deixar a pista, levantando-se do solo, viera-me na mente tudo o que deixava: o Brasil, uma inspetoria salesiana, muitas iniciativas, tantos jovens e muitos amigos conhecidos em quase 18 anos de trabalho no nordeste.Enquanto as luzes da cidade distanciavam-se sempre mais, algumas lágrimas começaram a descer dos meus olhos, pensando em tudo isso. E eu, sozinho, indo para outro destino!Naquele momento me confortou a motivação da minha escolha, porque ser missionário é ter coragem, também, de deixar tudo para seguir a Jesus e trilhar os novos caminhos que Ele indica!


30-01-2009
MINHAS DUAS ÚNICAS MALAS

No intuito de preparar bem as únicas duas malas, que podia levar para Angola, dediquei muito tempo ao trabalho de escolha, deixando muitas coisas (não cabia, dentro das duas malas, tudo o que tinha!) para colocar dentro delas o que era mais importante e interessante! Quando, porém, embarquei no Recife, não me deixaram, de jeito nenhum, enviar as duas malas para Luanda. E se quisesse, deveria pagar mais de 1.000 dólares! Ai de mim!A única solução seria enviá-las até Lisboa, para ver o que poderia fazer, esperando que a Providência de Deus me ajudasse.A minha alegria foi imensa quando, em Lisboa, no escritório da TAP, soube que poderia continuar minha viagem com as duas malas, e sem pagar nada a mais!

31-01-2009

PRESENTE DE DOM BOSCO

Às 7:15h da manhã do dia 31, o avião aterrizou no solo africano. Logo pedi a intercessão de N. Sra. Auxiliadora e de Dom Bosco, no dia da sua festa, para que minha nova experiência missionária salesiana fosse abençoada e protegida.A acolhida fraterna do Pe. Filiberto, inspetor de Angola, me fez, logo, sentir parte desta nova terra: “Você – me disse – é o mais belo presente de dom Bosco, neste dia”.Celebramos a eucaristia de uma maneira muito simples, na capela da casa inspetorial, lembrando o nosso Fundador e rezando para o bom desenvolvimento da missão salesiana nos quatro cantos do mundo.

01-02-2009

UMA IGREJA VIVA

No primeiro domingo em terra angolana, participei de uma bela celebração na comunidade de Mbondo Chapé, na periferia de Luanda, onde 30 jovens universitários, animados pelos salesianos, estavam terminando uma semana de animação e de visitas nas casas. Aqui não tem igreja, mas um terreno com um pequeno galpão. Vi chegar mais de 800 pessoas de onde jamais pensava: vindo de casas pobres e distantes, percorrendo estradas de areia, debaixo do sol quente, mas todos vestidos a festa, alegres e felizes. E, ao longo da celebração, senti uma grande vibração e uma profunda participação, sobretudo através de cantos e danças.Foi para mim a descoberta de uma igreja que sabe viver e crescer no meio das dificuldades: não uma igreja de tijolos (porque o galpão não tinha paredes, nem bancos ou cadeiras para sentar), mas uma igreja viva, formada por um povo que canta e espera de Deus sua salvação.

FAMÍLIA SALESIANA

Na tarde deste domingo, mais de 200 pessoas, pertencentes aos vários grupos da Família salesiana, especialmente à Associação de Maria Auxiliadora - ADMA (mas também Salesianos, Filhas de Maria Auxiliadora e Cooperadores), reuniram-se no pátio da igreja de São Paulo (paróquia do centro de Luanda, animada pelos salesianos) para ouvir a Estréia do Reitor-Mor, apresentada pelo Pe. Gino Favaro, vigário inspetorial.Aqui em Angola percebe-se o entusiasmo da Família Salesiana em trabalhar pelo mesmo ideal de Dom Bosco e ser, de verdade, um grande movimento a serviço da juventude.

02-02-2009

BAIRRO DA LIXEIRA: UM FAVELÃO

Quem quer saber o que é favela e ver o tamanho das favelas da África, deve visitar o bairro da Lixeira (já o nome diz tudo!), perto do porto de Luanda. Eu nunca vi uma situação parecida, nem juntando todas as favelas de Recife!Aqui existe o maior mercado ao mundo e a pior condição de vida (utilizam só bancas, sem nenhuma infra-estrutura: vocês imaginem a qualidade das mercadorias!). Um salesiano me disse: “Depois do nada, vem ainda o bairro da Lixeira!”. Acho que dá para entender a situação na qual vivem 500.000 pessoas, na maioria jovens!No meio desta pobreza ‘generalizada’, uma comunidade salesiana, formada por quatro religiosos, apóia e sustenta quase 20 centros – entre os quais uma escola de 6.000 alunos, juntamente a mais de 800 colaboradores leigos.Varias organizações internacionais ajudaram, e continuam ajudando neste trabalho; muitos voluntários passaram por aqui; nestes dias chegou também uma família-voluntária argentina (pai, mãe e quatro filhos): pequenos sinais de esperança para as crianças e os jovens que moram no grande e esquecido bairro da Lixeira.

PRIMERIAS IMPRESSÕES

As primeiras impressões da Angola são de um povo alegre, otimista, que está trabalhando para reconstruir o país, depois de 30 anos de guerra civil, com muitos jovens esperando algo de bom... A situação econômica, porém, é muito mais difícil do que, em geral, no nordeste do Brasil: a produção local quase não existe, as fábricas são pouquíssimas e o comércio é, na quase totalidade, informal. O custo da vida é muito alto, porque tudo é importado!A capital, Luanda (6 milhões de habitantes), têm quase metade da população de todo o país (13 milhões), por causa da fuga do interior no tempo da guerra, e 70% deste povo vive em situação crítica, em favelas o bairros sem as mínimas estruturas (água, esgoto, luz, escolas...). A cidade se apresenta assim: pequenas casas, muita gente andando e vendendo nas ruas, nuvens de poeira em todo canto, engarrafamento constante nas estradas, poucas ruas asfaltadas, prédios sem conservação... Os desafios são muitos, mas nota-se, também, uma boa colaboração e um grande entusiasmo e isso ajuda a enfrentar e superar muitas dificuldades e obstáculos.

Que “Mamã Muxima” (que quer dizer “Mamma do coração” - assim é aqui invocada Nossa Senhora e Ela é a Padroeira da inspetoria salesiana da Angola) me ajude a conhecer sempre melhor esta nova realidade e a amar os jovens que encontrarei com a mesma paixão de Dom

Pe. Luiz De Liberali