"Sinto verdadeira necessidade de fazer-me santo; e se não me fizer, não faço nada. Deus quer que eu seja santo, e tal há de acontecer." Domingos Sávio
Não deixava de rezar antes das refeições
Já aos quatro anos, não era necessário lembrá-lo de que rezasse as orações da manhã e da noite, o Angelus e as orações de antes e depois das refeições. Sempre que os pais se esqueciam, ele tomava a iniciativa de recitá-las.
Em uma ocasião, uma visita sentou-se à mesa sem praticar nenhum ato de religião. Não ousando chamar a atenção, Domingos retirou-se tristonho. Interrogado depois por seus pais, sobre o motivo daquela estranha atitude, respondeu: "Não me atrevo a sentar-me à mesa com uma pessoa que inicia a refeição como os animais".
Aos sete anos já sabia de cor o catecismo, e ardia em desejos de fazer a Primeira Comunhão. Não foi sem dificuldade que conseguiu a autorização, pois só se costumava admitir a este Sacramento meninos com 11 anos de idade.
Ao recebê-la, a alegria inundou seu coração. Parecia que sua alma já habitava com os anjos do Céu. Após a cerimônia, escreveu alguns propósitos, como: "Meus amigos serão Jesus e Maria; antes morrer do que pecar".
Era um pouco débil e delicado de compleição, de aspecto grave e ar doce, com um não sei quê de agradável seriedade e de humor sempre igual. Percorria diariamente uma distância de 16 quilômetros para ir à escola, onde obtinha, quase sempre, as melhores notas em todas as matérias.
O presente que lhe peço é que me ajude a ser santo
Um dia, ao ouvir uma pregação sobre a facilidade de santificar-se, seu coração inflamou-se no amor de Deus, e mais tarde declarou a Dom Bosco: "Quero dizer que sinto um desejo e uma necessidade de fazer-me santo. Nunca havia imaginado que se poderia sê-lo com tanta facilidade, e agora, que vi, quero absolutamente e tenho absoluta necessidade de ser santo".
Dom Bosco, algum tempo depois, queria dar-lhe um presente e perguntou-lhe o que gostaria de receber. Domingos disse: "O presente que lhe peço é que me ajude a ser santo. Quero dar-me todo ao Senhor, ao Senhor para sempre. Sinto verdadeira necessidade de fazer-me santo, e se não me fizer, não faço nada. Deus quer que eu seja santo, e tal há de acontecer".
A primeira coisa que se lhe aconselhou para chegar a esse fim, foi que trabalhasse para ganhar almas para Deus, posto que não há coisa mais santa nesta vida do que cooperar com Ele na obra da salvação.
Seguindo a recomendação, não perdia oportunidade para dar bons conselhos e advertir a quem dissesse ou fizesse coisas contrárias à santa lei de Deus. Tinha um verdadeiro horror às blasfêmias, e quando as ouvia, se não tinha condições de advertir o responsável, tirava o chapéu e dizia "Louvado seja Jesus Cristo!", para reparar a falta.
Para se compenetrar cada vez mais da resolução que tomara, lia de preferência a vida dos santos que trabalharam especialmente pela salvação das almas, e se encantava com a vocação dos missionários, em cuja intenção, pelo menos uma vez por semana, oferecia a comunhão. Muitas vezes exclamou: "Quantas almas esperam na Inglaterra nossos auxílios! Oh! Se tivesse forças e virtude, queria ir agora mesmo, e com sermões e bom exemplo convertê-las todas para Deus".
O pensamento de ganhar almas o acompanhava em todos os lugares. Seu semblante alegre, sua índole vivaz, o faziam querido por todos, e era a alma das recreações. Não perdia ocasião para levar um menino ao confessionário, e empregava diversos meios para consegui-lo, como passeios, jogos, etc.
Com a mesma finalidade, considerava como seus amigos especialmente os meninos que ficam esquecidos nos colégios, quer pelo seu temperamento ou pela sua ignorância. Alegrava-os com interessantes conversas e dava-lhes bons conselhos. Por esta razão, os doentes o queriam como enfermeiro, e os que estavam tristes e desiludidos contavam-lhe suas dificuldades.
Dominou os olhos vivazes, mantendo-os sempre recolhidos
Deus o havia enriquecido, entre outros dons, com o fervor na oração. Seu espírito estava tão habituado a conversar com Deus em todos os lugares, que, mesmo no meio das mais ruidosas algazarras, recolhia seu pensamento, e com piedosos afetos elevava o coração a Deus. Quando rezava em conjunto, parecia verdadeiramente um anjo: imóvel e bem composto, de joelhos, sem apoiar-se, a cabeça levemente inclinada para frente e os olhos baixos, com suave sorriso no rosto. Bastava vê-lo para se ficar edificado.
A compostura exterior dele tinha tanta naturalidade que se poderia pensar que a havia recebido assim das mãos de Deus. Mas quem o conheceu de perto pode afirmar que tudo era resultado de um grande esforço humano, coadjuvado pela graça divina.
Seus olhos eram vivacíssimos, e tinha que fazer-se não pequena violência para tê-los recolhidos. Ele mesmo contou a um amigo que, quando decidiu dominar o olhar, teve muito trabalho, e até padeceu de grandes dores de cabeça.
Além da modéstia do olhar, era muito comedido em suas palavras. Nunca seus lábios proferiram palavras de queixa pelos calores do verão nem pelos rigores do inverno. Sempre se mostrava satisfeito com tudo o que lhe serviam. Quando a comida estava muito cozida ou muito crua, quando tinha muito ou pouco sal, dizia que era assim que gostava, aproveitando a ocasião para mortificar-se.
Intensa devoção a Nossa Senhora
Sua devoção a Nossa Senhora era enorme, e fazia cada dia mortificações em sua honra. Pode-se dizer que toda sua vida foi um exercício de devoção à Santíssima Virgem.
Quando passava próximo de espetáculos públicos, não os olhava, o que levou um companheiro pouco piedoso a dizer-lhe: "Para que tens olhos, se não te serves deles para olhar estas coisas?". A resposta veio pronta: "Quero que me sirvam para contemplar o rosto de nossa celestial mãe Maria, quando, com a graça de Deus, seja digno de ir vê-la no paraíso".
No mês dedicado à Mãe de Deus, preparava uma série de exemplos edificantes, e pouco a pouco os ia narrando com muita disposição, para animar outros a serem devotos dEla.
Em 1856, Domingos demonstrou tanto fervor no mês de maio, que parecia, mais do que nunca, um anjo vestido de carne humana. Se escrevia, era de Maria; se estudava, cantava ou ia à aula, tudo fazia em honra de Maria.
Desejo ardente de falecer na Escola Salesiana
Sua atitude impressionava tanto, que um colega lhe perguntou: "Se fazes tudo este ano, o que farás no ano que vem?". E recebeu uma resposta através da qual se nota que pressentia chegar seu fim: "Isto corre por minha conta. Se ainda viver, contar-te-ei o que hei de fazer".
Como sua saúde ia debilitando-se, Dom Bosco o fez examinar por vários médicos. Inquirindo sobre o remédio mais útil para aplicar, um médico, que se encantara com o pequeno Domingos, disse que "melhor seria deixá-lo ir ao paraíso, para o que parece muito preparado".
Atacado por tosse obstinada, a conselho médico foi obrigado a ir para a casa dos pais, o que aceitou como penitência, mas demonstrando pouca disposição, pois queria acabar seus dias na Escola Salesiana, e sabia que se fosse para casa não voltaria mais, como ele mesmo afirmou.
Ao sair, chamou Dom Bosco, dizendo-lhe: "Posto que o senhor não quer esta minha carcassa, me vejo obrigado a levá-la a Mondonio (residência dos pais). Ver-nos-emos no paraíso".
Perguntou-lhe se era certo que seus pecados estavam perdoados, o que deveria responder ao demônio se viesse tentá-lo etc. Ao final, pediu as indulgências plenárias que o Papa concedera a Dom Bosco "in articulo mortis".
Ao sentir que se aproximava a morte, pediu que o pai lesse a Ladainha das Rogações, e algum tempo depois, com voz clara e alegre, disse: "Adeus, papai, adeus. Oh! que coisas tão belas vejo!"
E sorrindo com celestial semblante, expirou com as mãos cruzadas sobre o peito e sem fazer o menor movimento.
Tão logo se tomou conhecimento de sua morte, seus companheiros começaram a aclamá-lo como santo; nas ladainhas dos defuntos, em vez de responderem `rogai por ele', diziam `rogai por nós'. Quase a cada dia se recebiam notícias de graças recebidas pelos fiéis por sua intercessão.
Domingos Sávio nasceu a 2 de abril de 1842, em Riva, a duas milhas de Chieri, na Itália. Faleceu a 9 de março de 1857. Foi declarado Venerável por Pio XI, em 1933. Foi beatificado por Pio XII em 1950, que o canonizou a 13 de junho de 1954, centenário de sua entrada no Colégio de Dom Bosco, em Turim.
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Referência:
"Biografia y escritos de San Juan Bosco", BAC, Madrid, 1955, pp. 769 a 857.
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